'Rei do Rebaixamento': Interpol confirma prisão do suspeito de chefiar esquema de manipulação de resultado de jogos
11/11/2024
William Pereira Rogatto foi preso em Dubai, na sexta-feira (8); g1 tenta contato com defesa. Expectativa de extradição é até próximo fim de semana, diz gabinete de membros da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas. Willian Rogatto, conhecido como o Rei do Rebaixamento
Reprodução/TV Globo
A Interpol confirmou, nesta segunda-feira (11), a prisão de William Pereira Rogatto, de 34 anos, conhecido como o "Rei do Rebaixamento". Rogatto é apontado como chefe do esquema de manipulação de resultados de jogos e foi preso na sexta (8), em Dubai, nos Emirados Árabes.
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A informação foi dada, inicialmente, pelo senador Carlos Portinho (PL/RJ) — um dos membros da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, que investiga o esquema. Nesta segunda, o gabinete do parlamentar informou que a expectativa é que Rogatto seja extraditado até o fim de semana.
O suspeito prestou depoimento à CPI, no Senado Federal, no início de outubro e, sem apresentar provas, disse que ganhou mais de R$ 300 milhões com a atividade e atuou no Campeonato Candango de 2024 — disputa dos times do Distrito Federal (saiba mais abaixo).
Operação VAR
Operação mira manipulação de resultados na Série B do Campeonato Carioca
Willian Rogatto é um dos alvos da Operação VAR, que começou nesta segunda-feira pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e investiga fraudes em jogos da Série B do Campeonato Carioca. Os clubes sob suspeita são o Nova Cidade, o Belford Roxo, o São José, o Brasileiro e o Duquecaxiense.
Agentes da Delegacia de Crimes contra o Consumidor (Decon), com o apoio da Polícia Civil paulista, saíram para cumprir 11 mandados de busca e apreensão. A investigação começou após uma solicitação formal da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), que apontou resultados suspeitos na série B do campeonato do Rio.
Depoimento na CPI
De acordo com o GE, em depoimento à CPI que apura denúncias de manipulação de jogos e apostas esportivas no Senado, realizado em outubro, Rogatto deu detalhes de como atuou, afirmando, sem apresentar provas, que atuou em todos os estados brasileiros. O tom de "deboche" chamou a atenção dos parlamentares, conforme publicado na coluna Chico Lins Na Rede.
Rogatto depôs virtualmente, porque à época morava em Portugal. Os senadores chegaram a cogitar uma viagem para Portugal, a fim de colher um depoimento presencial de Rogatto, além de oferecer a possibilidade da inclusão do investigado no Sistema de Proteção à Testemunha e até um acordo de delação premiada. A viagem, entretanto, acabou não ocorrendo.
O réu ainda expôs que comprava árbitros, jogadores, dirigentes e presidentes de clubes. Desde então, os senadores iniciariam articulações para localizá-lo, já que estava foragido.
Quem é William Rogatto?
William Pereira Rogatto
Lucas Magalhães/GE
Durante depoimento na CPI, Rogatto contou que suas atividades começaram aos 19 anos, depois de uma viagem a Las Vegas, nos Estados Unidos. Ele justificou seu envolvimento no esquema com a “brecha” que encontrou no sistema esportivo e com a possibilidade de lucro oferecida pelas apostas.
“O esquema de manipulação dos jogos só perde para política e o tráfico de drogas em termos de valores”, afirmou ele em depoimento à CPI, revelando que seu esquema envolvia desde atletas até árbitros e dirigentes de clubes.
Segundo ele, o sistema é antigo e estruturado, com raízes que, segundo suas palavras, remontam há mais de 40 anos. O empresário explicou que o foco de suas operações são clubes em dificuldades financeiras, aos quais oferece suporte em troca de controle nos resultados dos jogos.
“Qual é meu modus operandi? Pego um time com dificuldade financeira e que não tem dinheiro para disputar campeonato ou pagar taxas da federação. Eu entro, como quem não quer nada, e falo: ‘E aí, presidente, vamos fazer o time subir? Vai dar tudo certo, a gente vai ser campeão’”, contou.
Rogatto revelou que esse método o ajudou a construir uma verdadeira máquina de manipulação esportiva. Com operações em todos os estados brasileiros e em nove países, Rogatto afirmou que a manipulação no futebol brasileiro é facilitada pela relação entre clubes e patrocinadores de apostas.
“Quando uma bet patrocina o seu clube, automaticamente o jogador se transforma em aposta”, explicou.
Ele também afirmou que seu envolvimento nos jogos era garantido com promessas financeiras: “Eu pagava muito bem por um gol”, disse, revelando que o montante pago a árbitros e jogadores superava significativamente seus salários regulares.
Apesar das confissões, Rogatto acredita que o esquema é muito maior do que ele e que dificilmente será extinto. “Os grandes não vão cair nunca. Estamos falando de dentro da CBF, de dentro das federações. Tenho provas e vídeos. Isso não vai dar em nada, vai fazer vítimas do sistema e, no final, não vai acabar porque não é de agora. Isso existe há mais de 40 anos. Eu fiz parte do sistema”.
O empresário admitiu que vê o futebol brasileiro como um “sistema único” e que para entrar “é preciso ter pessoas”. “Tem político, vereador, prefeito. Eu sempre procurei entrar pelas secretarias de Esporte”, afirmou.
“Não roubei ninguém, não matei ninguém. Eu trabalhei em cima do sistema, o sistema é falho. Um árbitro hoje oficial ganha em torno de R$ 7 mil por jogo, eu pagava R$ 50 mil para ele”.
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