Justiça condena dentistas após paciente descobrir broca alojada no crânio: 'Eu poderia morrer'

  • 30/05/2025
(Foto: Reprodução)
Maria Cristina, de 62 anos, passou 4 meses com uma parte da broca cirúrgica alojada no crânio sem saber e só descobriu após fortes dores de cabeça. A Justiça condenou os dentistas por negligência, mas a indenização foi considerada baixa pela defesa da paciente. Justiça condena dentistas após paciente descobrir broca alojada no crânio Arquivo pessoal O que era para ser uma simples extração dentária se transformou em um drama para Maria Cristina Soares, de 62 anos. Após meses de dor e exames, ela descobriu que parte de uma broca cirúrgica havia ficado alojada em sua cabeça. Em contato com o g1, Cristina contou que poderia ter morrido por conta do erro médico, já que ela ficou 4 meses com um objeto estranho na cabeça sem saber. Segundo outros médicos consultados, o pedaço de metal de 1,2 cm poderia até ter parado em seu pulmão, caso fosse aspirado. "O mais grave não foi o erro em si. Erros acontecem. O problema foi a negligência. Eu voltei várias vezes ao consultório da doutora, fui atendida por ela em outras demandas, mas ninguém me avisou nada. Fiquei 4 meses com a broca na face”, contou Maria Cristina. “Eu sentia muita dor de cabeça e não sabia o motivo. Mas os riscos eram sérios. Eu poderia ter aspirado a broca e ela ir para o pulmão, ou ser engolida e perfurar o intestino”, completou. Justiça condena dentistas após paciente descobrir broca alojada no crânio Arquivo pessoal O caso terminou com a condenação dos dentistas envolvidos, conforme decisão da 1ª Vara Cível da Barra da Tijuca, proferida em 12 de maio de 2025. O juiz Arthur Eduardo Magalhaes Ferreira determinou o pagamento de R$ 8 mil por danos morais. Contudo, diante da gravidade do caso, o advogado Daniel Blanck, responsável pela defesa de Cristina, considerou o valor muito baixo e prometeu recorrer. “Acreditamos que é possível alcançar um valor mais justo, que reflita a gravidade do ocorrido e sirva de exemplo para evitar que situações como essa se repitam". "Em nenhum momento do processo os réus negaram que a broca havia desaparecido. O juiz reconheceu que houve responsabilidade subjetiva e entendeu que a conduta dos profissionais foi omissiva e negligente", explicou Daniel. Clique aqui e siga o perfil do Bom Dia Rio no Instagram Procedimento traumático Em 23 de junho de 2022, Maria Cristina procurou atendimento odontológico para extrair um dente que estava com raiz fraturada. O procedimento foi agendado com a dentista Priscilla Bittencourt Palladino Monteiro, na Barra da Tijuca, mas, no dia da cirurgia, quem realizou a extração foi o dentista Lucas Tetsuya Murai, chamado por Priscilla para assumir o procedimento. Embora não conhecesse o dentista que realizou a extração, Cristina havia autorizado sua participação, confiando na indicação da doutora Priscilla. O problema começou durante o procedimento, quando a broca utilizada quebrou e desapareceu. Cristina ouviu deitada na cadeira que o dentista comentou com Priscilla que não conseguia localizar a broca desaparecida. "Durante o procedimento, ele demonstrou preocupação porque não estava encontrando a broca. A secretária chegou a entrar na sala para ajudar a procurar, achando que poderia ter caído no chão. A dentista, no entanto, desviou o assunto, minimizou a situação e disse que a broca poderia ter sido sugada ou ido para o lixo”, contou a paciente. De acordo com o relato de Cristina, o dentista Lucas se mostrou preocupado com o sumiço do objeto, mas que toda vez era silenciado por Priscilla. "Ela me tranquilizou, mas não pediu nenhum raio-x para verificar se a broca poderia ter ido para outra parte do meu rosto. A broca foi como uma flecha e acabou alojada atrás do meu nariz. Mas eu não sabia.", lembrou. Forte dor de cabeça durante viagem Cristina contou que a extração do dente foi extremamente traumática, deixando hematomas e dores. Contudo, ela achou que fosse normal, visto que o dente que ela precisou retirar estava com a raiz quebrada. Paciente descobre broca no crânio após extração dentária e Justiça condena dentistas Arquivo pessoal Sem desconfiar que estava com um objeto metálico na cabeça, ela retornou ao consultório para outro procedimento em julho daquele ano. "Não foi uma extração normal, mas ela disse que era por causa da raiz quebrada. Comecei a sentir dores parecidas com sinusite, dor de cabeça, dor ao redor do olho. Mas nunca associei à cirurgia", lembrou. "Mesmo depois disso, voltei lá para extrair outro dente, do lado direito, com os mesmos profissionais. Foi traumático de novo, mas achei que fosse normal", disse Cristina. Sem saber do problema grave, Cristina fez uma viagem à Europa e foi em Portugal que ela percebeu que alguma coisa não estava bem. Em setembro, ainda com dores e insegura, Maria Cristina procurou outro profissional. Um raio-x panorâmico revelou um objeto metálico na região da maxila. Tomografias realizadas nos dias 20, 22 e 27 de setembro confirmaram a presença de um corpo estranho metálico de 1,2 cm na nasofaringe — região posterior do nariz. "Viajei para Portugal por uns 20 dias e comecei a sentir muita dor. Ninguém falava nada sobre a broca. Eu estava completamente ignorante sobre o que estava acontecendo. Quatro meses depois, procurei meu dentista antigo, na Tijuca. Ele pediu um raio-x panorâmico e, na hora, viu a broca", relatou. Cirurgia frustrada Após a identificação do objeto, seu dentista de confiança orientou que Cristina procurasse um cirurgião bucomaxilofacial. O especialista indicou a necessidade de cirurgia com anestesia geral para remoção do objeto. Durante a cirurgia, o médico utilizou aparelho de vídeo endoscopia para procurar a broca dentro do lado esquerdo da face, próximo aos ossos. A cirurgia, que deveria levar menos de 1 hora, durou quase 3 horas. Justiça condena dentistas por negligência após broca ficar alojada no crânio de paciente Arquivo pessoal Apesar da busca com vídeo endoscopia e da ajuda de outros cirurgiões chamados durante o procedimento, a broca não foi localizada pelo cirurgião. "Depois, fiz tomografias do corpo inteiro para ver se a broca tinha se deslocado. Fiz muitos exames, inclusive raio-x de todo o corpo e nada", disse. Uma tomografia do crânio realizada em 25 de outubro de 2022 constatou que o corpo estranho metálico "Não mais se observa (...) na fossa nasal esquerda". O exame indicou que o objeto foi removido, apesar de não ter sido visualizado ou retirado diretamente pelo cirurgião. Cristina lembra que o pós-operatório foi extremamente doloroso. A paciente relatou ainda que teve medo de que o objeto ainda estivesse em seu corpo. Condenação Em sua decisão, o juiz Arthur Eduardo Magalhaes reconheceu que, embora a responsabilidade dos profissionais liberais dependa da comprovação de culpa, a presença do corpo estranho após a cirurgia era um fato incontestável. A quebra da broca não foi negada, e o magistrado entendeu que os profissionais deveriam ter tomado todas as providências para localizar o objeto. Ambos os dentistas foram considerados responsáveis, inclusive Lucas, que, em seu depoimento à Justiça, tentou se eximir por não ser o titular do atendimento. A sentença determinou o pagamento de: R$ 1.240 mil por danos materiais; R$ 8 mil por danos morais; e despesas processuais e honorários advocatícios de 10% sobre o valor da condenação. O juiz destacou ainda que os danos morais ultrapassaram o mero aborrecimento, considerando a dor, o sofrimento, a idade da paciente e os riscos à sua saúde. O que dizem os citados Em nota, a dentista Priscilla Bittencourt Palladino Monteiro informou que "o procedimento mencionado na ação judicial foi realizado por outro profissional especializado da equipe, e reitera que não há qualquer conduta imprópria ou falha técnica atribuível à Dra. Priscilla". "Durante todo o atendimento, foram adotadas as medidas adequadas de segurança, com realização de exames, acompanhamento contínuo e total suporte à paciente. A atuação da Dra. Priscilla sempre foi pautada pela ética, responsabilidade e zelo profissional, tanto assim é verdade que a paciente realizou diversos outros tratamentos, assim como outros familiares da paciente". "Embora tenha havido uma sentença de primeira instância, a sentença ainda não transitou em julgado e será objeto de recurso, no momento oportuno. A defesa confia plenamente na reversão do julgado e acredita que, ao final do processo, a verdade prevalecerá e a Justiça será feita". Até a última atualização desta reportagem, o dentista Lucas Tetsuya Murai não respondeu aos contatos feitos pela equipe do g1.

FONTE: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/05/30/justica-condena-dentistas-apos-paciente-descobrir-broca-alojada-no-cranio-eu-poderia-morrer.ghtml


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