Cinquenta e dois dias de cão: a angústia e a saga do cachorro Teddy e seus tutores até embarcar para Lisboa
30/05/2025
(Foto: Reprodução) Animal embarcou nesta sexta-feira (30) com o treinador Ricardo Cazarotte em um voo da TAP. Negociação para embarque envolveu o Ministério de Portos e Aeroportos. Teddy é fundamental para o bem-estar e a rotina de Alice, de 12 anos. Teddy, cão que dá suporte a menina autista, embarca para Portugal
Após três tentativas frustradas e mais de 50 dias de espera, o cão de suporte Teddy, que auxilia Alice, uma menina autista de 12 anos em suas tarefas diárias, embarcou com sucesso para Lisboa, na tarde desta sexta-feira (30), no Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão.
O embarque aconteceu 52 dias depois da primeira tentativa, que se deu em abril, quando Alice viajou com os pais para a capital portuguesa. O animal foi acompanhado pelo treinador Ricardo Cazarotte em um voo da companhia aérea TAP. A irmã de Alice, Hayanne Porto, também viajou.
“Estamos com os bilhetes, estamos a caminho de Lisboa, para levar o Teddy para a Alice. Eu agradeço de coração toda a ajuda que a gente teve desde sábado, num contexto de muita dor, muito estresse, e fica satisfeita que, nesse momento, a gente conseguiu solucionar essa questão. Mas a gente não pode deixar um direito ser violado”, disse Hayanne.
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Teddy, o cão de serviço que dá suporte a menina autista
Reprodução/TV Globo
Criança aguarda desde abril
A saga de Teddy rumo a Portugal começou quando a família tentou embarcar com o animal em 8 de abril, uma mudança de país motivada por uma oportunidade profissional do pai de Alice, o médico Renato Sá. A menina, que é autista, depende do labrador, treinado como cão de serviço, para apoio no dia a dia.
Inicialmente autorizada, a ida do cão foi impedida no momento do embarque, quando informaram aos pais e às filhas que a passagem foi cancelada um dia antes. A justificativa: a documentação apresentada para o animal não seria aceita em Portugal, segundo a TAP.
Já a segunda tentativa ocorreu no sábado, dia 24 de maio, mais de um mês após a mudança, quando os pais e a menina já estavam em Lisboa. Teddy seria levado por Hayanne, irmã da menina, que tinha uma ordem judicial e todos os documentos pedidos pela empresa.
Teddy e o treinador no saguão do Galeão, nesta sexta-feira (30)
Henrique Coelho/g1 Rio
No entanto, o embarque não aconteceu. A alegação apresentada pela TAP para negar o embarque foi de que o cão não poderia ser colocado junto com os passageiros já que não estava viajando com a pessoa para quem ele presta assistência, ou seja, não estava em serviço.
Por conta disso, a empresa aérea informou que o animal deveria viajar no bagageiro, o que não foi aceito pela família. Segundo eles, como Teddy é um animal de serviço, não pode ser transportado isolado neste compartimento. À época, a TAP afirmou que o cumprimento da decisão violaria seu manual de operações e colocaria em risco a segurança a bordo. Mais uma vez, o avião decolou sem levar o cão.
A irmã de Alice tentou, no mesmo dia, embarcar com o animal por uma terceira vez. Hayanne e Teddy iriam em um voo que deixaria o Brasil às 20h25 e foi adiado para 23h45. No entanto, antes mesmo de iniciar o embarque, a TAP obteve uma liminar que possibilitava a saída da aeronave sem que os dois fossem no avião.
Tedy é cão de serviço de uma criança autista e foi proibido pela empresa aérea TAP a embarcar em voo com destino a Portugal
Arquivo pessoal
Outro impedimento para a terceira tentativa de embarque no dia se deu por conta do vencimento do Certificado Veterinário Internacional (CVI). A data de validade do documento era 25 de maio, ou seja, teria vencido quando os dois chegassem à capital portuguesa. Como o certificado é necessário para autorização da viagem do animal, a família teve que solicitar um novo para garantir o translado.
Na última terça-feira (27), entrou em cena o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, que prometeu ao pai da criança que chegaria a uma solução com a companhia aérea. Assim, toda a documentação necessária para a viagem do animal foi providenciada de forma emergencial.
O treinador Ricardo Cazarotte, que foi responsável pelo treinamento de Teddy por um ano e meio, a fim de prevenir crises emocionais graves na menina, saiu de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, e se encontrou com Teddy no Aeroporto do Galeão para embarcarem juntos para Portugal. Depois, o treinador retorna para São Paulo.
“A gente que treina sabe a importância desse cão. Já deve estar desencadeando várias crises. Se você tira o autista da rotina dele, desencadeia agressividade, ansiedade. Meu papel aqui é fazer esse encontro, fazer ela feliz e ele também.” Por ser treinador, somente Cazarotte e a criança assistida estão autorizados a viajar com Teddy dentro da cabine.
Teddy no saguão do Galeão, nesta sexta-feira (30)
Henrique Coelho/g1 Rio
Separados por tanto tempo, Alice acabou passando por episódios de desregulação emocional sem o cão.
Cazarotte foi responsável pelo canil da Polícia Militar de São Paulo até se aposentar. O treinador se especializou em preparar cães de assistência e até para detectar doenças previamente em pessoas.
Ao embarcar, a irmã de Alice afirmou que só ficará mais tranquila quando estiver em Lisboa e o cão estiver novamente ao lado da menina. “Até a gente embarcar, sentar na aeronave e desembarcar lá, o coração vai estar batendo mais forte”, disse. “Ela passou a semana inteira me procurando e procurando ele pela casa. Agora a gente vai concluir isso", continuou.