Além de Poze do Rodo, Oruam, Orochi, Cabelinho e gravadoras também são investigadas, diz polícia
29/05/2025
(Foto: Reprodução) O secretário de Polícia Civil do RJ, Felipe Curi, afirmou que as músicas dos artistas funcionam como ferramenta de propagação da ideologia e da 'narcocultura' do Comando Vermelho. Shows financiados pelo crime organizado podem movimentar cerca de R$ 600 mil, segundo a polícia. O g1 tenta contato com a gravadora Mainstreet Records. MC Poze do Rodo é preso por apologia ao crime e por envolvimento com o tráfico de drogas
A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou, na manhã desta quinta-feira (29), que gravadoras que produzem músicas com apologia ao Comando Vermelho (CV) e ao Terceiro Comando Puro (TCP) estão sendo investigadas por suspeita de lavagem de dinheiro e apologia ao tráfico de drogas.
Para a polícia, essas músicas são um instrumento de disseminação da ideologia e da narcocultura do CV (veja mais detalhes abaixo).
Uma das empresas investigadas é a Mainstreet Records, que foi fundada pelo empresário Lucas Mendes Lang, conhecido como Lang, em parceria com o rapper Flávio César de Castro, o Orochi. O g1 tenta contato com a gravadora.
Entre os artistas ligados à Mainstreet Records estão os cantores Oruam, o próprio Orochi, Cabelinho e Poze do Rodo, que foi preso nesta manhã, na casa dele, em um condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, por apologia ao crime e por envolvimento com o tráfico de drogas (veja acima). Poze nega as acusações (veja a nota completa ao fim da reportagem).
Os quatro artistas também são investigados por apologia ao crime, segundo o delegado Moyses Santanna, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE).
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Segundo Santanna, a apuração atinge "todos os artistas que fazem shows em áreas controladas por facções criminosas e que promovem apologia ao crime."
Poze do Rodo foi preso em um condomínio no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio
Reprodução/ TV Globo
Ainda de acordo com o delegado, cantores que se apresentam em eventos como o Baile da Disney, realizado na Vila do João — área sob influência de uma facção rival ao Comando Vermelho — também serão alvo das investigações.
Ao g1, o delegado afirmou que cada show financiado pelo crime organizado, por meio de produtoras de eventos em favelas controladas pelo Comando Vermelho, pode movimentar cerca de R$ 600 mil.
"Esse valor é para pagar cachês, as tendas, montar o palco etc."
'Narcocultura do Comando Vermelho'
O secretário da Polícia Civil do RJ, delegado Felipe Curi, afirmou que as facções criminosas atualmente operam em duas frentes: a prática direta do crime organizado e a atuação no campo informacional.
"Eles têm cantores, MCs, influenciadores. Criam uma falsa narrativa. A música deles tem um alcance interminável e pode ser mais letal que um tiro de fuzil. O que eles fazem extrapola os limites da liberdade de expressão", destacou.
Curi citou ainda que as músicas de Poze são um “instrumento de propaganda do Comando Vermelho.”
“Esse suposto MC que foi preso transformou a música num instrumento de dominação, de divulgação e de disseminação da ideologia e da narcocultura do Comando Vermelho”, declarou Curi.
“As letras enaltecem o uso de armas de grosso calibre e o uso de drogas, além de fomentar guerras e disputas territoriais com facções criminosas rivais”, detalhou.
'Narrativa que criminaliza', diz advogado
O advogado Fernando Henrique Cardoso, que representa, Poze do Rodo, Cabelinho e Oruam, afirmou que existe uma narrativa de perseguição a determinados gêneros musicais e lembrou que, inicialmente, o samba também foi criminalizado.
"Em relação a isso, essa narrativa de pesquisar determinado gênero musical, cena artística, primeiro o samba foi criminalizado. Isso não é novo. Essas supostas falas da polícia fazem parte de uma narrativa que criminaliza e exclui as manifestações artísticas”, falou o advogado.
“É um tanto estranho, porque estamos falando de arte no Brasil e no mundo, que movimentam bilhões. Eu faço a defesa de alguns desses cantores, mas ainda não tive acesso à investigação desses cantores”, acrescentou.
O g1 tenta contato com a defesa de Orochi.
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Mapa localiza onde MC Poze do Rodo foi detido, no Rio de Janeiro
Arte g1
Atração do CV
Quem é Poze do Rodo, cantor preso por apologia ao crime e envolvimento com o tráfico
De acordo com as investigações, Poze realiza shows exclusivamente em áreas dominadas pelo CV, com a presença ostensiva de traficantes armados com fuzis, a fim de garantir a “segurança” do artista e do evento.
Ainda de acordo com a DRE, o repertório das músicas de Poze “faz clara apologia ao tráfico de drogas e ao uso ilegal de armas de fogo” e “incita confrontos armados entre facções rivais, o que frequentemente resulta em vítimas inocentes.”
A delegacia afirma que shows de Poze são estrategicamente utilizados pela facção “para aumentar seus lucros com a venda de entorpecentes, revertendo os recursos para a aquisição de mais drogas, armas de fogo e outros equipamentos necessários à prática de crimes.”
“A Polícia Civil reforça que as letras extrapolam os limites constitucionais da liberdade de expressão e artística, configurando crimes graves de apologia ao crime e associação para o tráfico de drogas. As investigações continuam para identificar outros envolvidos e os financiadores diretos dos eventos criminosos”, declarou a instituição.
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O RJ2 mostrou no último dia 19 que a DRE tinha aberto uma investigação depois que vídeos de um baile funk na Cidade de Deus, na Zona Oeste, onde Poze se apresentava viralizaram (relembre abaixo).
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Criminosos assistiam ao show de Poze exibindo fuzis e ainda filmavam, sem qualquer tipo de disfarce ou receio de serem identificados.
O show, no qual o cantor entoou diversas músicas enaltecendo o CV, ocorreu dias antes da morte do policial civil José Antônio Lourenço, integrante da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), em uma operação policial na comunidade.
Aquele não tinha sido o 1º baile de Poze com a presença de traficantes armados. Em 2020, por exemplo, o MC foi visto em um evento semelhante no Jacaré.
Bens apreendidos em novembro
Em novembro do ano passado, Poze e a mulher, Viviane Noronha, foram alvos da Operação Rifa Limpa, contra sorteios ilegais divulgados nas redes sociais. Na ocasião, carros de luxo e todas as joias do funkeiro, incluindo cordões ornados com ouro, foram apreendidos.
A ação investigava um esquema que fingia seguir regras da Loteria Federal, mas usava um aplicativo com fortes indícios de manipulação.
No mês passado, a Justiça mandou devolver os bens. O juiz Thales Nogueira, da 1ª Vara Criminal Especializada em Organização Criminosa, explicou que não viu comprovação da relação dos itens apreendidos com os delitos investigados pela polícia.
Após a decisão, Poze postou nas redes sociais:
“Eu só quero o que é meu, e o que Deus generosamente me dá”, disse o artista.
Poze do Rodo foi preso na manhã desta quinta-feira (29)
Reprodução/ TV Globo
Polícia Civil esteve na casa do MC Poze do Rodo, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio
Reprodução/ TV Globo
Nota de MC Poze do Rodo
"MC NÃO É BANDIDO
Hoje o Poze foi surpreendido com um mandado de prisão temporária e uma busca e apreensão na sua casa.
A acusação de associação ao tráfico e apologia ao crime não fazem o menor sentido, Poze é um artista que venceu na vida através de sua música.
Muitos músicos, atores e diretores têm peças artísticas que fazem relatos de situações que seriam crimes, mas nunca são processados, porque se tratam justamente de obras de ficção.
A prisão do Poze, ou mesmo a prisão de qualquer MC nesse contexto, é na realidade criminalização da arte periférica, uma perseguição, mais um episódio de racismo e preconceito institucional, a forma absurda que o Poze foi conduzido é a maior prova disso."